Categoria: Notícias

Coordenadora da Comissão de Educação da Província do Rio de Janeiro e Irmã Servente da Comunidade do Colégio Vicentino Virgem Poderosa (SP), Ir. Carolina Mureb, comemora, em 2021, 25 anos de vocação. Na semana que nos preparamos para celebrar o Dia de São Vicente de Paulo, em 27 de setembro, conversamos com ela, que é estudiosa da obra de SVP e de Santa Luisa de Marillac, fundadores da Companhia das Filhas da Caridade.    

Na entrevista, Carolina, de  44 anos de idade e natural de Cabo Frio (RJ), fala sobre o seu ingresso na Companhia, o legado de São Vicente de Paulo e a relevância do trabalho das Filhas da Caridade durante a pandemia. “O grande desafio é atuar não somente nas consequências do empobrecimento (a miséria e a fome que retornaram assustadoramente em nosso país), mas contribuir na conscientização dos pobres e das pessoas de boa vontade sobre a necessidade de políticas públicas que mudem a estrutura que cria a pobreza”, afirma.

1 – Primeiramente, parabéns pelos 25 anos de vocação. 

Obrigada. Celebrei com muita alegria e gratidão ao Senhor e aos Fundadores, 25 anos de Filha da Caridade, no dia 09 de março.

2. Como a senhora conheceu o Carisma Vicentino?

Na cidade em que eu nasci, Cabo Frio/RJ, não havia ramos da Família Vicentina, mas o pároco, Pe. João Luiz Franco Assumpção, tinha sido capelão das Filhas da Caridade no Colégio São Vicente de Paulo, em Niterói/RJ (onde não trabalhamos mais, pois a escola não é nossa) e me apresentou um pouco da história. Quando comecei o discernimento vocacional, ele me apresentou às Filhas da Caridade daquela escola e a Irmã Rosalie Baptista me deu muitos livros sobre São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac para ler.

3. Quando decidiu se entregar a Deus, por quê optou seguir pelo Carisma Vicentino?

Escolhi ser Filha da Caridade porque a vida de São Vicente e Santa Luísa e a história da Companhia me impactaram profundamente. Ver o que eles foram capazes de realizar e o que a Companhia conseguiu cultivar, ampliar e realizar ao longo de quase 400 anos me fez desejar ser parte dessa missão.

4. Qual a principal mensagem e o principal legado de São Vicente de Paulo?

Ah, são vários! Vou resumir em 3: 

a. O lugar dos pobres: Para São Vicente de Paulo, os pobres são um “lugar teológico”, isto é, um lugar onde encontramos Deus. Jesus se identificou com eles; portanto, para São Vicente de Paulo, os pobres nunca são marginalizados, mas são servidos como “senhores e mestres” porque neles, pelos olhos da fé, encontramos e amamos o Filho de Deus que quis ser pobre. Os pobres (suas vidas e seus direitos) passam a ter um lugar central e se tornam critério de verificação se seguimos Jesus ou não.

b. Amor afetivo e efetivo: São Vicente de Paulo rejeitava qualquer “amor” reduzido a gestos e discursos “açucarados” , para ele o amor deve sim, ser afetivo (a doçura do amor), mas tem que ser, ao mesmo tempo, efetivo, isto é, concretizado na realidade, comprometido com o outro. Neste sentido, ele desconfiava de cristãos que se servem de belas palavras, mas na hora da ação, de fazer algo por Jesus, de sofrer ou se sacrificar pelo Reino arrumam desculpas.

c: Caridade organizada: São Vicente é um grande mestre nisso! Ele nos ensina que a caridade precisa ser organizada para que seus efeitos sejam duradouros, por isso, é preciso se trabalhar em grupo. Ele e Santa Luísa foram grandes articuladores de pessoas, hoje diríamos que eram especialistas em networking! É preciso sim, dar de comer a quem tem fome, mas é preciso atuar para que ele não tenha mais fome! Para as situações que eram irremediáveis, ele organizou grupos e os meios para saciar a fome e atenuar os sofrimentos da doença, mas também reuniu pessoas e recursos para iniciativas que prevenissem ou atenuassem a pobreza. 

5. A quase 400 anos de fundação da Companhia das Filhas da Caridade por São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac quem são, em sua opinião, os nomes que melhor representam esse carisma no mundo contemporâneo?

Nossos Fundadores sempre reforçaram a ideia do conjunto, da comunidade, não quiseram ser nem criar “estrelas”. A visibilidade tem que ser sempre de Jesus e do projeto do Reino e, claro, dos pobres; a missão é sempre mais importante. Acredito que neste sentido, duas grandes mulheres, dentre outras, deixaram um legado para nós: Bem-aventurada Rosalie Rendu ( século XIX) e Irmã Suzanne Guillemin (nossa Superiora Geral, de 1962-1968). Duas mulheres “modernas” para sua época, profundamente embuídas do Carisma Vicentino e que realizaram iniciativas audaciosas para suas épocas, mas fiéis ao espírito dos Fundadores.

6. Após 18 meses de pandemia, o número de pobres e pessoas em situação de rua aumentou consideravelmente no Brasil. O trabalho das Filhas da Caridade torna-se ainda mais necessário dentro desse contexto?

A relevância do Carisma Vicentino se comprova porque surge do núcleo do Evangelho: a salvação que Deus concede a todos passa pelos pobres, isto é, na forma como cuidamos deles. Deste modo, o Carisma Vicentino será sempre fundamental enquanto perdurar o sistema que empobrece as pessoas. A missão das Filhas da Caridade de servir os pobres, espiritual e corporalmente, seguirá sempre atual e necessária porque a pobreza perdura, mudando suas formas.  O grande desafio é atuar não somente nas consequências do empobrecimento (a miséria e a fome que retornaram assustadoramente em nosso país), mas contribuir na conscientização dos pobres e das pessoas de boa vontade sobre a necessidade de políticas públicas que mudem a estrutura que cria a pobreza.

7. Com o aumento da demanda pela ajuda aos pobres, tornam-se ainda mais necessárias vocações para o trabalho de caridade. Esses tempos ajudam a despertar o interesse das jovens?

Assim esperamos! Se pensarmos nos números, desanimamos: a pobreza e a miséria aumentam, e poucas mulheres manifestam o desejo de entrar na Companhia para servir o Cristo nos pobres (que aumentam cada vez mais), mas o Papa Francisco tem nos pedido para não olhar os números, mas na qualidade de nossa presença e nosso serviço. E é isso que queremos fazer.

8. Qual a importância do trabalho voluntário junto às Irmãs?

O trabalho voluntário é fundamental em duas vidas: ajuda as Irmãs na missão, mas também ajuda a pessoa que se voluntaria a ser mais humana, mais gente. O trabalho voluntário favorece o conhecimento da realidade, é uma boa vacina contra a doença da indiferença (que vem se alastrando) e ajuda na construção do bem maior. Isso é tão importante na formação da pessoa que estamos construindo na Rede Vicentina de Educação um projeto de Ação Voluntária que será implantado no Ensino Médio, em 2022.

9. Quais fontes de pesquisa você indica para quem quer conhecer mais a fundo o Carisma Vicentino?

Para quem gosta de ler, 2 livrinhos:  Orar 15 dias com Santa Luísa de Marillac e Orar 15 dias com São Vicente de Paulo, os dois da Editora Santuário.

Para que gosta de navegar na internet, recomendo:

site internacional das Filhas da Caridade: https://www.filles-de-la-charite.org/pt/site-internacional-filhas-da-caridade-2/

site da nossa Província: https://filhasdacaridaderj.org.br/

site da Província Brasileira da Congregação da Missão (PBCM): https://pbcm.org.br/

site da Sociedade de São Vicente de Paulo: https://ssvpbrasil.org.br/